segunda-feira, dezembro 27

história de amor: quatro pernas e duas rodas

Era a primeira vez que se viam.
Ela mal o olhava, de barriga apertada. Ele olhava fundo nos olhos de todos – e nos dela também.
Acho que a primeira vez que falaram nem abriram as bocas. O sonho dele era nadar até à Madeira – o corpo dela tremeu todo, em silêncio.
O dele não, vi os olhos dele brilharem.

Nadámos sem fim, ele fora dele e eu a leva-lo, fora de mim também. Afinal os corpos não têm fim, se a cabeça não tem muros.
Ia dizer que quase não falámos: que o corpo dele não deixava ou os meus ouvidos o desentendiam, mas a verdade é que descobri nesses dias a importância dos olhos.
À medida que me envolvia em nós e nos nossos limites, fui aprendendo a descobrir o que dizem os olhos mesmo quando não mandamos no corpo.

Nenhum de nós pensou durante todo o tempo como se pode ser preso num corpo se ele dormir numa cadeira de rodas. Na tua cabeça o mar sem fim, na minha o verde-campo, jardim.