sexta-feira, setembro 14

a casa

Tenho o quarto mais luminoso. Quando faz sol o meu quarto é dourado, quando está de chuva o meu quarto é branco-luz-de-núvem. Fiz dele uma casa, é bom estar cá dentro. É tudo espaçoso, o colchão é mole demais portanto às vezes durmo no chão para endireitar as costas, trouxe muitos mimos das paredes daí e comprei uma hortelã num vaso que vive no parapeito. 

hey, roommate!
flat 35, room 3!
hey you!
(espreitei lá para baixo: era o meu quarto
e eu não o conhecia de lado nenhum.)
you have the best room ever!
lucky you, it was mine last year.


Moro com uma trompetista e com uma clarinetista, as duas inglesas e uma delas com um ar porreiro, betinha mas boa onda. Para além delas mora um chinoca de hong kong e o seu piano. Estudam todos muito e vemo-nos pouco, sem grandes partilhas de espaço, nem de casa, nem de pratos, talheres, vegetais, iogurtes e outros que tais, nem de grandes conversas. 


Moramos todos num corredor, cozinha numa ponta, cagadeira e chuveiro (cheio de luz!) da outra, do mesmo lado que a porta de saída. Somos todos mais ou menos asseadinhos e eu sou a que como melhor. Não se fuma nem no quarto, nem na casa, nem no pátio. Queres fumar, sais do quarto, sais de casa, desces as escadas, sais do bloco, atravessas o pátio, sais do portão e oupas – tenho fumado bem menos e estou com vontade de me desabituar a intervalinhos para cigarrinho. Já tinha vivido num corredor (e até gosto da ideia), mas o melhor é quando aqui entro e a janela aberta.

Vivo na casa pacata, aqui o pessoal estuda a sério e eu, se tudo correr bem, vou aproveitar-me disso, montar-me na minha pedaleira a caminho da minha secretária e aproveitar o tempo para mastigar tudo o que acontece aqui, a cada minuto.