sexta-feira, julho 29
terça-feira, julho 19
sábado, julho 16
sexta-feira, julho 8
segredos do pote
há um cantinho muito cantinho onde eu não chego:
quando dou por mim, já estou a levar com ele na nuca.
quando dou por mim, já estou a levar com ele na nuca.
segunda-feira, julho 4
domingo, julho 3
o viajante
Está acima das nuvens, no alto da montanha mais alta. Vemo-lo de costas, imóvel e contemplativo. Na sua sóbria elegância citadina, dir-se-ia que para ali chegar mais não lhe foi preciso que atravessar tranquilamente uma avenida. Está sozinho diante dos cumes mais altos, vestido como um filho pródigo que regressasse a casa trazendo todos os estigmas de quem vem de um outro mundo. Tudo nele nos diz que não pertence àquele lugar. Terá vindo de uma cidade distante? E como poderia ter chegado ali assim, sem trazer consigo nenhum rasto da poeira dos caminhos? «Tudo é romântico desde que levado para longe», ter-nos-ia dito se verdadeiramente ali estivesse e agora olhasse para trás. Mas ele não pertence a esta paisagem, e por isso o vemos de costas, sem podermos adivinhar de que maneirao seu rosto procura enfrentar o brilho da neve, o reflexo da luz. Tão longe quanto dali está («no fundo da minha alma», diria), hão-de as montanhas parecer-lhe infinitamente maiores do que consegue vê-las, altas acima das nuvens e de qualquer comparação. Tão altas que nem subindo ao ponto mais alto ele poderia, alguma vez, deixar de ser aquele que desconhece a poeira dos caminhos - um homem que há muito desceu a viver no vale e agora regressa, sem saber como voltar na condição em que apenas poderia não ter partido.
A Porta de Duchamp, de Rosa Maria Martelo
A Porta de Duchamp, de Rosa Maria Martelo